segunda-feira, 13 de julho de 2009

A Infertilidade conjugal. Uma nova realidade



Vivemos numa sociedade em plena mutação de valores e de hábitos. Atualmente o casamento e a gestação de um filho passam a ser coisas que podem ser pensadas separadamente, denunciando uma nova ordem social e moral onde os valores são questionados o tempo todo e tornaram-se mais flexíveis.

A mulher originalmente educada a casar e constituir família como prioridade, incluiu em sua vida outros objetivos, ampliando seus horizontes. O sucesso profissional e a independência financeira não são mais atributos, ou necessidades apenas masculinas. Somadas a essas mudanças sociais, a maturidade, um importante atributo da evolução emocional, estimula que os casamentos, ou as propostas de uniões estáveis, sejam cada vez mais planejados e, consequentemente, realizados mais tarde.

Pensar mais sobre os próprios interesses e objetivos tornou a gravidez um ato mais cuidadoso, assumindo claramente um caráter de escolha, agora não mais apenas para o homem, mas também para a mulher.

Como tudo que podemos escolher, a decisão de ter ou não um filho torna-se um, entre tantos outros objetivos a serem alcançados, e sua prioridade depende das características pessoais de cada homem e cada mulher. A mulher, redimensionada em seu papel social, revê suas necessidades e possibilidades postergando esta escolha.

A questão subliminar é que fomos educados para sermos férteis. Nossa sociedade não está preparada para a possibilidade de infertilidade, simplesmente porque a idéia era improvável para uniões de jovens casais. Portanto, neste panorama, a infertilidade surge para muitos como uma surpresa, um pesadelo nunca antes imaginado.

Com o passar da idade biologicamente mais fértil, as possibilidades naturalmente diminuem e as chances caem a cada ano. Somam-se a essas dificuldades os problemas de infertilidade que podem variar muito entre homens e mulheres.

Deparamo-nos com uma nova realidade e novas frustrações.

Os tratamentos para infertilidade são muitos hoje em dia e se relacionam à medicação diária específica, controle rigoroso do ciclo menstrual e acompanhamento médico entre outros. Trata-se de um processo dispendioso, não só financeiramente falando, mas emocionalmente também.

O aspecto emocional se relaciona a altos e baixos protagonizados por uma gangorra de esperanças e frustrações. A espera, a dúvida e o medo que assolam durante a incerteza do resultado e as fantasias que aparecem, tornam o processo mais penoso. Um furacão de questionamentos surge em meio à angústia de uma nova decepção. Muitas vezes a relação conjugal se abala, causando brigas e separações. Existem casais que não conseguem superar todo tipo de acusações mútuas que surgem, principalmente quando são veladas.

Então, como lidar com tudo isso?

Acima de tudo é essencial que exista um desejo muito forte de ambas as partes em gerar um filho, e que seja uma escolha clara e consciente. É importante se informar sobre o processo e sobre as próprias possibilidades e chances de sucesso.

É fundamental que o casal esteja assessorado por um Esterileuta - nome dado ao médico especialista no tratamento de infertilidade - e por um psicólogo especialista no tratamento de pessoas com esse problema.

O suporte emocional neste momento não é algo descartável ou menos importante, como alguns podem pensar, pois quando falamos de fertilidade estamos nos referindo à visão de si mesmo que construímos durante toda uma vida e que de repente simplesmente cai por terra, trazendo um forte sentimento de impotência e insegurança.

Da mesma forma a visão do outro, daquele que você ama, também se modifica, porque muitas vezes o problema é desconhecido até então.

É importante que o casal esteja muito consciente e decidido sobre a importância e a delicadeza desse processo para que possa superar junto as dificuldades.

A ciência conhece ainda muito pouco, mas já o bastante para trazer essa alegria, esse milagre da vida até aqueles que já se encontravam sem esperança.

:: Sirley Bittú ::

A maternidade depois dos trinta anos



A maternidade é percebida por algumas mulheres como o início de um novo ciclo, um marco diferencial que consagra de forma concreta a abrangência do papel feminino, e talvez seja por isso que a maternidade pode tornar-se uma dolorosa obsessão. Muitas mulheres desenvolvem dentro de si o desejo de ser mãe. A maternidade após os trinta é raramente um erro de cálculo ou obra do acaso, trata-se na maioria das vezes de algo planejado, sonhado e muito desejado. Algumas vezes torna-se um objetivo de vida. Condição para sentir-se realizada no mundo.

A revolução do papel da mulher na sociedade, e sua conseqüente inserção no mercado de trabalho de forma cada vez mais competitiva, modificou consideravelmente as características da mulher atual. É claro que a liberdade sexual também ajudou, pois atualmente a mulher pode escolher a maternidade desvinculando-a da relação sexual. Historicamente somos herdeiras de uma educação onde o amor e o sexo formavam um dueto inquestionável para uma mulher de boa índole, e o prazer só era permitido relacionado com o sentimento mais sublime, o amor, e desta forma mantinha-se uma visão da mulher comparável apenas ao aspecto divino dos anjos, e não aos seres humanos.

A mulher, faz parte da mesma espécie tanto como o homem, por mais incrível que isso possa parecer para alguns, guardando obviamente diferenças entre si, não apenas físicas, mas emocionais e culturais, que se revelam em sua forma de se relacionar com o mundo. Os seres humanos, - homens e mulheres portanto - sentem, desejam e são capazes de amar de várias formas, cada um com suas peculiaridades.

A mulher está aprendendo a buscar seus desejos, a ter projetos outros além de casar e ter filhos. Com o desenvolvimento emocional e cultural tanto da mulher como do homem e o aumento de sua autoconsciência, a maternidade está deixando de ser manipulada à vontade pelos controles sociais de natalidade, ou mesmo pelos interesses políticos de alguns. O desejo feminino passou a ser mais aceito e reconhecido, numa sociedade tradicionalmente patriarcal.

Muitas dessas mudanças estão acontecendo, como resultado do questionamento de fórmulas antigas e consagradas onde as idéias sobre sexo, sexualidade, prazer e amor eram associadas à sujeira, vergonha, medo, dor, repulsa e culpa. A mulher está tentando aprender com os homens a separar amor e sexo, enquanto o homem reciprocamente, tenta aprender a juntar as duas coisas.

Temos obviamente ganhos e perdas com essa revolução social. As dificuldades em estabelecer relações de intimidade, por exemplo, tornaram-se favorecidas nesse contexto, uma vez que as diferenças entre autonomia emocional e o medo de relacionamentos afetivos possuem entre si uma tênue divisão.

Um dos resultados dessa reorganização social, que podemos considerar positivo, foi à maternidade estar tornando-se uma escolha cada vez mais consciente.

A maternidade após os 30 anos de idade passou a ser algo comum dentro desse cenário, pois freqüentemente é uma opção de mulheres que já construíram sua vida profissional e se sentem maduras e preparadas emocionalmente para assumir tal responsabilidade.

Com a gravidez tardia (na verdade não podemos pensar em hora certa, ou tempo certo, mas em nossa hora ou nosso tempo...), surgem dificuldades naturais do ponto de vista biológico. O corpo precisa se adaptar à nova necessidade para dar conta dessa demanda. O fantasma da infertilidade surge para muitos nesse momento quase como o expiador de suas culpas.

Aprendemos através do processo de autoconhecimento que a culpa surge muitas vezes, da dificuldade em assumirmos as escolhas e as opções que fazemos durante nossa vida. Ela é alimentada por inseguranças internas, dificuldades em identificar nosso próprio
tempo/ritmo, e é temperada por nossos medos e desconhecimentos de nossos potenciais, tão necessários para lutar contra as dificuldades que surgem em nosso caminho.

Em sua evolução o ser humano está constantemente fazendo escolhas e com isso rescrevendo sua história, adaptando sua espécie as suas novas necessidades. Possuímos em nós um potencial criativo que nos possibilita esta transformação. Precisamos talvez focar nossa atenção aproveitando e direcionando essas mudanças, de forma a permitir o florescer do melhor em nós, quem sabe assim o repensar sobre o papel de ser mãe seja o início da revalorização da vida e traga consigo o redimensionamento da agressividade humana e do amor, como partes de um dueto que precisa reencontrar seu equilíbrio.

:: Sirley Bittú ::